quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ENTREVISTAS COM BRUNO (COLETANEA)


Bruno Gouveia - Vocalista do Biquini Cavadão


" Galera, se a pornografia infantil, que é uma das coisas mais hediondas do mundo, nao consegue ser combatida, porque seria o MP3, que tem total aprovação pública? Este é o problema...!!! "
Chegou a hora de ouvir a opinião dos músicos ! A Central MP3 conversou com Bruno Gouveia, vocalista da banda Biquini Cavadão e também webmaster da Demos & Debuts, página dedicada a divulgação de gravações demos. Leia agora a entrevista EXCLUSIVA sobre música, mp3 e cia... que Bruno nos deu.
Central - Você é a favor ou contra o mp3 ? :-)

Bruno - Sou a favor do MP3. Questiono o não pagamento dos direitos autorais. Mas a tecnologia de compressao de dados de audio (e futuramente vídeos, seja em mp3 ou wxyz da vida) veio pra ficar e pra arrebentar! Central MP3

Central - O crucial : MP3 prejudica financeiramente ou ajuda os artistas a venderem
mais ? Você deixou de comprar CD's depois que conheceu o mp3 ?

Bruno - MP3 até agora nos ajudou mais que prejudicou.

1) porque através de mp3 hoje em dia eu posso enviar mensagens, chamadas, vinhetas de rádio para todo brasil e exterior sem sair de casa.
2) porque tive o prazer de conhecer muitas músicas que sequer foram lancadas em CD por falta de iniciativa das gravadoras que contratam apenas a ponta do iceberg criativo do Brasil (e as vezes a ponta esta podre, ficando o melhor submerso).
3) porque mesmo que fosse prejudicial, este universo seria pequeno e atinge atualmente diversas pessoas que tem dinheiro para comprar CDs sim! Quem tem $ para comprar um computador pode comprar CDs. E fatalmente, quem gosta de um determinado artista vai acabar comprando o CD dele. Central MP3
4)Porque pude criar um site na geocities mostrando gente nova via mp3 . O site chama-se Demos e Debuts e fica em http://www.geocities.com/SunsetStrip/Venue/1116

Central - O que você diria a um webmaster que coloca mp3 sem autorização dos autores para download na internet ?

Bruno - Diria a ele que mesmo uma rádio que "divulga" o trabalho do artista, paga direito autoral. Ate um barzinho que tem música ambiente paga direito autoral. Este direito mal chega para nós mas tem seu valor e estamos lutando para que ele venha a ser maior no futuro. O artista assim, tem todo direito de negar a colocação do MP3 no site. Central MP3

Central - O que você faria se encontrasse uma música do Biquini para download numa página na web ?

Bruno - Já encontrei. Claro que preferia que a pessoa tivesse me perguntado. Alias, no site que criei para colocar mp3 de novos artistas, todas as pessoas foram consultadas. Em alguns casos, negaram e eu não questionei: nem fiz o mp3 da pessoa.

Central - A principal alegação dos internautas ao fazer o donwload de mp3 é que um CD custa muito caro (se fosse mais barato, seria muito mais fácil comprar o CD). No Brasil, pobre, sem aumento salarial, gasolina, só esse ano: 35%, o povão não pode comprar CD's a torto e a direita (os que acessam a internet e conhecem o mp3 é uma ínfima porcentagem da população). O preço da mídia é insignificante diante do preço final ao consumidor. Não é caro um CD ? Por que ?

Bruno - O motivo é enorme!!! Respire fundo que tentarei explicar:

a) quem paga as horas de estudio de uma gravação profissional para que você ouça a música de seu artista favorito e comente "que legal!!"
b) quem paga os músicos que acompanham o seu artista (caso ele seja solo) ou ainda as participações especiais que tocam com a banda (percussionistas, metais, cordas eventuais)?
c) quem paga a passagem, hospedagem, alimentação, excesso de bagagem, músicos extras e outras cositas mais para que seu artista favorito se apresente na TV ou em uma festa de rádio pela qual muitas vezes você nem precisou pagar nada? (detalhe: nestes casos o artista _quase sempre_ toca de graça abrindo mão de seu cache)
d) quem cria uma estrutura para que o CD do seu artista seja distribuido pelo Brasil inteiro?
e) quem paga pela produção gráfica da capa maneira que voce folheia?
f) quem paga pelo video clip sensacional que você vota para melhor do ano nos canais de clips?

Poderia continuar perguntando ate chegar na letra z mas fico por aqui para dar algumas respostas:
- quem paga tudo isso é a gravadora.
- o preço do disco inclui um percentual dedicado a este investimento. Se um disco vende bem, a gravadora investe mais. Se um disco vende menos a gravadora, mesmo acreditando no potencial do artista, investe menos...
- quando você compra um CD pirata (muito mais barato que um CD normal) você esta fazendo com que as vendas de um CD caiam e a gravadora invista menos no artista.
- por mais que se diga que as gravadoras 'exploram' os artistas, ninguém explora mais do que o cara do CD Pirata. Ele fica com o lucro todo, nao paga artista, direito autoral, não investe em nada, ou seja: fica na aba do chapéu...

O CD pode ser mais barato? Podia. Agora não pode mais... Central MP3

- Ate o fim do ano passado. Os CDs custavam algo em torno de 16 dólares por aqui. Hoje, "graças" a queda do real frente ao dolar, o CD brasileiro é um dos mais baratos do mundo. Custa 9 dólares! Nossa realidade é barra pesada. Mas chegamos a um ponto em que não é o CD que tem de custar mais barato . Nós, brasileiros, é que temos de ganhar melhor !!!

O assunto é complicado e extenso mas vou passar logo para o MP3. Quem baixa mp3 para ouvir em casa, faz o mesmo que um cara como eu, que ha 20 anos atras, gravava fitas k7 das rádios e dos discos LP dos amigos para poder conhecer melhor a carreira dos Stones, Queen, Police, Gil, Caetano, Chico etc... Mais tarde, quando comecei a ganhar dinheiro com meu trabalho, tratei de comprar os discos e esquecer as fitas. O ser humano tem esta mania por palpável e o mp3 , acredito, acabara até incentivando as pessoas a comprar CDs pois elas conhecerão mais músicas ....=)

Por isso, se você baixa mp3, não o condeno. Alias, acho esta uma boa forma de você conhecer mais músicas e artistas, não ficar preso a programações de rádios e apurar mais seus ouvidos, conhecendo até o que ainda não foi lancado. Central MP3

Por outro lado, se voce compra CDs de MP3, condeno-o pelo simples fato de voce estar dando margem a um comercio cruel e que poderáa em breve acabar com muitos artistas (vide pirataria de CD acima)... Central MP3

Aceito o MP3 como formato, não como midia. Se for para ouvir mp3 no seu pc ou mac, tudo bem. Se for para comercializar ou consumir mp3 (através de CDs piratas) sem dar os direitos a quem é de direito, condeno a atitude. Central MP3
Central - Seríamos visionários em dizer que a internet vai baratear isso e democratizar a música, fazendo com que os artistas sem o apoio da midia tradicional e divulgações milionárias tenham as mesmas chances dos "grandes" atuais ? (vide Palco Central MP3 ou www.mp3.com)

Bruno - A priori, não.

Money makes the world go round. =P

Lei n.1 de independente. Todo trabalho independente que da certo é contratado por uma grande empresa (Exceções raras, os Racionais mantem-se independentes contra tudo e todos, até por terem tido tamanho sucesso que sabem o quanto estarão perdendo ao assinar com uma grande gravadora). Mas acho que o MP3 será uma grande plataforma de lançamento para os artistas novos, sim. Alguns serão então contratados pelas majors...

Central - O que você acha desses novos formatos ditos "seguros" para venda de músicas online ?
Bruno - O lado bom: Vivemos de música. SE você baixa um arquivo musical, esta usufruindo de um trabalho que levou meses para ser feito. Se tivermos alguma forma de sermos remunerados, acho justo. O lado ruim: os contratos dizem que o que o artista recebe é calculado sobre 90% do preço original (10% são gastos com capa, fábrica etc..). Ou seja: as gravadoras vão ganhar muito mais, gastando muito menos, mas o artista não verá uma sombra desta bonificação... Central MP3

Um detalhe parecido com este aconteceu em 1983 quando surgiu o CD. Os Cds eram vendidos mais caros para o público, mas os contratos eram anteriores ao surgimento deste novo formato. Embora fosse lógico que o cálculo de direitos dos artistas fossem pagos com base no preço do CD, as gravadoras diziam "que não tinham como fazer isso, e que o cálculo deveria ser feito com os valores do formato LP , que constava no contrato", gerando perdas para todos os artistas... Central MP3

Se as gravadoras criarem um sistema seguro, cabera aos artistas reverem estas clausulas....

Central - Você acredita num formato seguro ?
Bruno - Acredito em um formato pago. Acredito em portais de música. Acredito que você não ficara procurando sites de música pequenos e cairá em um grande site musical onde pagara muito pouco para baixar uma música com ótimas taxas de transferencia. E saberá que o preço irrisorio compensará, pois estara ajudando os artistas a terem seu valor reconhecido. Central MP3

Mais que isso! Lembrem-se que o artista poderá viver de show. A gravadora podera vender CDs ou arquivos digitais...Mas se ninguém pagar nada ao compositor, muita gente vai dancar! Central MP3
Central MP3
Tome um exemplo basico: Arnaldo Antunes. Arnaldo vende seus discos solo. Não tem uma vendagem gigante, mas suas letras tambem são gravadas por gente que vende muitos CDs. Marisa Monte e Gil são apenas alguns exemplos. Quando um Cd da Marisa vende , o Arnaldo
recebe um x por cento pela inclusão de sua letra. Quando você baixa um mp3 da marisa monte, ninguem ganha nada, mas o compositor é garantidamente o maior Central MP3 prejudicado...pense nisso.

Central - O Biquini Cavadão venderia músicas via internet caso surgisse um sistema realmente seguro ?

Bruno - Claro!

Central - O que você acha da qualidade do mp3 ?

Bruno - Gosto do resultado. Tem boa qualidade, embora não codifique muito meus mp3 pois acho que o interessante é a pessoa baixar um arquivo pequeno com qualidade (apenas) boa para que conheca um trabalho. No site do Biquini (www.biquini.com.br) disponibilizamos músicas em mp3 mas apenas contendo em media um minuto e meio ou dois, para que a pessoa possa conhecer um pouco o trabalho. Central MP3

Central - É um formato com uma boa qualidade sonora ? Já experimentou VQF, WMA (da Microsoft) e afins ?

Bruno - Sim, como tambem QMusic, QuickTime (com compressor Sorenson), RealAudio
(embora mais fraquinho), Beatnik, Liquid Audio...O futuro não é mp3, é alguma outra sigla =) Central MP3

Central - Você que deve estar acostumado com estúdio, como é a qualidade sonora dos mp3 ?

Bruno - Uma vez no estudio, você fica sempre 'mal acostumado'. Acho o MP3 ideal para quem ouve música e não é audiofilo. O Cd ainda é a boa . Vinil tb!!! =) Central MP3
Central - Como você ouve suas mp3 ? Seu equipamento de som e etc...

Bruno - Uso Macintosh em casa. Não tenho PCs, detesto Windows. Uso MacAmp e codifico com Macromedia SoundEdit 2 Central MP3
Central - Você tem alguma dica sobre ediçao de arquivos de audio ? Tipo : qual softwares você (ou o estúdio) usam e etc ?

Bruno - Uso 32 ou 64 bits normalmente. como disse, são raras as vezes em que acho
que a música precise de uma melhor codificaçãoo, como 128..
Central - Fale sobre o que você pensa sobre mp3... E deixe uma mensagem para o pessoal que visita a Central MP3.

Bruno - Galera, se a pornografia infantil, que é uma das coisas mais hediondas do mundo, nao consegue ser combatida, porque seria o MP3, que tem total aprovação pública? Este é o problema...!!! Central MP3

Minha opinião difere de muitos artistas, mas todos concordamos que algo vai mudar significativamente na forma de como você consome música. A guerra do MP3 para mim ja comecou muito mal para as gravadoras . Para mim, até o momento, acredito em 3 caminhos: Central MP3

1- Incentivar as mesmas pessoas que dao Mp3 nos sites a trocarem os arquivos por SDMI (ou qualquer outro arquivo seguro) e dar um percentual X para estas pessoas por cada arquivo baixado, ou seja, *participacao nos lucros*!!! Este método, de nome Cosmic Credit, já funciona com livros e cds, porque não então com mp3??? Assim, em pouco tempo, a ganância fará com que todos aqueles que tinham sites 'dando ' mp3 passem a vender. Lógico que irão pintar alguns 'robin hoods' mas diminuiria muito o número. A gravadora pode apostar nisso... Central MP3

2- Uma segunda alternativa seria baixar absurdamente o preco dos arquivos a serem comprados. Atualmente estipula-se algo como $0,80 (oitenta cents). Baixem para 10 e todos comprarão, certos ainda de estarem fazendo algo legal e apoiando os seus artistas. Mais arquivos, mais músicas, mais gente comprando...as perdas serão pequenas... Central MP3

3- Alternativa radical: as gravadoras tiram de todas as lojas todos os CDs e dizem: de agora em diante, para voce ouvir algo novo vai ter que comprar via internet, formato SMDI ou whatever. Isto implicaria em abdicar de tudo que foi lancado em CD até o momento, deixando a festa para os piratas que venderiam cds com toda a discografia dos Beatles em
um disco de mp3...Tática suicida. Pouquíssimo provavel que isso aconteca.... Central MP3

Acho importante que todos pensemos nas consequencias. Nem tudo é glamour no mundo musical e em geral, existem muito mais casos de artistas lutando, sofrendo e se endividando para mostrar seu trabalho'(principalmente aqui na terrinha) do que extremamente ricos e nadando em dinheiro com as gravadoras, ignorando o mp3. Central MP3

Central - E pra finalizar... Como anda a Janaína ? ;-)

Bruno - Graças a Deus, fizemos um ótimo trabalho com a BMG e ja estamos compondo
para gravar em Outubro o novo disco da banda previsto para Janeiro. Será o bug do milenio nosso novo disco...=).

Qualquer duvida, basta escrever! E nao deixem de dar uma sacada no site ;-)

Biquini Cavadão surgiu no Rio de Janeiro e sua formação atual conta com Bruno no vocal, Miguel nos teclados, Álvaro na bateria e Coelho na guitarra. Entrevista concedida no dia 21 de abril de 2002, antes de tocarem no programa "Bem Brasil" da TV Cultura. Nesta apresentação a banda teve como convidado Marcelo Hayenna, vocalista da banda Uns e Outros.
Por Luciana Ueda
Foto: Nana Moraes (www.biquinionline.cjb.net)
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Em primeiro lugar... sobre o novo disco...
Bruno / O "80" pra gente é um disco muito especial porque nós queríamos fazer há algum tempo um disco não autoral. Começou com um projeto que nós tínhamos feito em novembro de 99: uma série de shows no Ballroom, no Rio de Janeiro, em que nós tocávamos com poesia, recitais, e ao mesmo tempo tinha participações especiais. Nisso quem participava eram Kid Abelha, Benjor, Frejat, Herbert, Zé Ramalho, os mais diferentes artistas. E eles cantavam uma música do Biquini e nós cantávamos uma música deles. Isso funcionou muito bem. E a gente viu que era legal interpretar a música dos outros e era muito legal a gente ver eles cantando nossas músicas também. Falamos “Pô, um dia a gente tem que fazer isso”. Perto do Rock In Rio o Marcelo Hayenna, do Uns e Outros, fez um comentário comigo da importância das bandas dos anos 80 na formação musical da nova geração. Era verdade. Então a gente estava concluindo isso nos camarins do Rock In Rio. Quando terminou, era um festival de uma pluralidade musical muito grande, nós imaginávamos então que seria assim: nós viveríamos uma fase nova na música na qual nós teríamos mais rock e acima de tudo melhores composições, um espaço maior para bandas novas. E o que se viu foi um festival de popozuda, cachorra, funk, preparada... e foi aí que a gente viu... “Tá na nora da gente falar um pouquinho sobre uma década super importante”, não por menos, é uma década que todo mundo fala: “a década de 80”. Ninguém fica falando “o rock Brasil dos anos 70” ou “rock dos anos 60”. Você tem os anos 80 e você tem a Jovem Guarda. São dois fenômenos do rock nacional muito claros e fortes. Não negando que você teve Raul, Rita, na década de 70, ou que você tenha tido na década de 90 grandes bandas também como o Rappa, Charlie Brown, Raimundos, Skank, Pato Fú. Foi com esse princípio que nós gravamos o disco. Agora, não é fácil fazer um disco assim. E pra fazer um disco dessa forma a gente teve que seguir um conceito. O primeiro conceito que nós fechamos foi: "só vai ter banda". Não vai ter artista solo. Não vamos gravar Lulu Santos, não vamos gravar Cazuza, apesar de serem muito importantes mesmo, a segunda metade para entender o rock dessa época. Fizemos uma coisa mais pras bandas. Segundo: "quem lançou disco recentemente, tem menos chances de entrar". Isso porque se a gente não fizesse esses filtros a gente não conseguiria gravar nunca. Iria virar um álbum triplo. Então a gente foi tirando bandas como Plebe Rude, que tinha gravado o “Enquanto a Trégua Não Vem” e o Ultrage a Rigor, que também tinha um disco ao vivo... o Ira!, o Capital. Ainda assim tiveram alguns que lançaram disco ao vivo, mas que a gente achou que valia a pena colocar. Os Engenheiros foi assim. “Dez Mil Destinos” foi ao vivo, mas a versão de “Toda Forma” da gente era tão diferente que valia a pena mostrar. Fomos fazendo esse projeto, e também tinha uma coisa: a gente não queria falar de uma época que a gente não viveu. A gente queria falar de uma época que nós vivemos. Então seria "o Biquini gravando os contemporâneos". Essencialmente o disco mostra três facetas. A primeira faceta são músicas de bandas conhecidas e de sucesso, como o caso de “Me Chama”, como o caso de “Toda Forma de Poder”, como o caso de “Camila, Camila”. Você também tem outra faceta no disco que tem as bandas que não são tão conhecidas assim do grande público hoje, mas que lançaram músicas marcantes, as músicas mais importantes delas. Então tem Uns e Outros com “Cartas aos Missionários”, tem “Armadilhas” do Finis Africae. E tem uma terceira faceta que a gente queria mostrar, que eram as músicas que talvez não sejam as mais óbvias numa escolha, mas que representam, primeiro, músicas belíssimas, e arranjos que o Biquini queria dar para essas músicas. Então, pro RPM, a gente não optou por uma opção KLB da vida. A gente quis “Juvenília”, porque pra mim é a letra mais bonita que o Paulo Ricardo já fez pro RPM. Nós optamos por “Quem Me Olha Só” do Barão porque era uma parceria do Frejat com o Arnaldo muito legal. Então a gente foi escolhendo: “Estado Violência”, que a gente quis dar uma coisa do "falar", sabe, de uma composição de um baterista como o Charles Gavin. A própria “Múmias” do Biquini que foi idéia de gravar uma música que a gente não tocava desde a morte do Renato. Então a gente falou “Vamos gravar essa música”. A gente teve várias participações. Teve a Érika cantando “Educação Sentimental II” do Kid Abelha, o Egypcio cantando “Hoje” do Camisa de Vênus, o Suave participando em “Múmias”, o Rajja, do Rajja e Cabong participando de “Quem Me Olha Só”. E nós pensamos até em alguém pra fazer o vocal do Renato, que tinha gravado com a gente “Múmias” em 85 e a gente falou “Quem vai fazer a voz do Renato?” Durante a gravação foi feito um teste no estúdio com a voz dele. Pegamos a gravação original e botamos. E graças aos milagres dos computadores foi possível. E quando a gente ouviu, foi emocionante. Era como se ele estivesse vivo, entende, como se ele tivesse acabado de gravar. Do tipo “Ah, fiquem ouvindo como é que ficou”. A gente ficou emocionado. “Não, é isso mesmo. Ele é insubstituível. É um cara que tem tudo a ver com isso aqui”. A gente resolveu fazer com essa versão. Então a gente sentiu muita vontade de gravar, embora sempre tenha um besta escrevendo por aí bobagens sobre esse assunto. Fora o Renato, as participações foram todas de uma nova geração. Gente que cresceu ouvindo. Houve também a preocupação de espelhar o Brasil dentro disso. Quer dizer, nós gravamos Camisa de Vênus, que é da Bahia, nós gravamos Finis e Legião e demos um tour pelas principais praças onde o rock teve sua representatividade. Então foi assim que a gente fechou esse álbum, que como a gente coloca no encarte muito bem, é um disco em que retratamos uma época em que música se fazia com a cabeça, e não com a bunda.
E no caso das músicas que foram escolhidas, o Lobão foi o único que foi colocado no meio como artista solo...
Bruno / Mas tem um detalhe...
...a música foi registrada como Lobão e os Ronaldos...
Bruno / Lobão e os Ronaldos... Foi a única hora que o Lobão teve um grupo. Então a gente falou assim “Hum... é a brecha!” Mas tinham outras músicas do Lobão muito bonitas. Dessa época tinham outros artistas também. Mas a gente tocava músicas do Lobão com muita freqüência nos shows, então a gente acabou optando por ela e ficou muito legal. O arranjo ficou simples e gostei muito. É uma das minhas favoritas.
E como foi a reação dessas bandas que foram escolhidas? Quando vocês falaram “Vamos gravar músicas suas”...
Bruno / Foi muito legal porque todos reagiram de uma forma muito legal. O pessoal do Nenhum de Nós falou “Pô, que barato a versão”. O Frejat, saiu de um show, me encontrou e falou “Cara! Só vocês pra pegarem Barão Vermelho e transformarem em reggae”. O Arnaldo curtiu muito a versão também, o pessoal dos Titãs, todos que ouviram... e o Lobão reclamou, o que pra gente foi muito legal também. O Lobão chiou... Pô, se ele tivesse elogiado eu ia ficar preocupado, mas ele falou mal, então a gente falou “Que legal! Lobão, sabíamos que podíamos contar com você!”
E parece também que vocês estão fazendo shows fora do Brasil...Como é que está...
Bruno / Não, não tamos.
...chegaram a fazer...
Bruno / Fizemos fora do Brasil. Fizemos o disco da gente... o Biquini.com.br que foi lançado em Portugal. Foi ótimo. Infelizmente o outro, o Escuta Aqui que eu acho até uma evolução, acabou não rolando lá fora. Mas a gente continua com esse trabalho. Temos contatos lá fora. E hoje em dia tem um grande barato, é que existem vários fãs portugueses que continuam acessando o site... Hoje mesmo, no site, tem um recado de alguém de Portugal. É muito bom.
E o que você acha dessa coisa dos Titãs, do próprio Lobão, de vender CDs em bancas de jornais?
Bruno / Eu acho muito interessante, mas eu acho que as pessoas têm que ficar conscientes de que isso não é uma solução, é uma alternativa. Você não vai transformar uma banca de jornal numa loja de discos. O problema não é esse. Banca de jornal facilita porque a distribuição é melhor. Isso é legal. Mas o grande problema continua sendo preço. A gente está até fazendo preço mais barato. Isso é legal. Mas a gente questiona muito. As pessoas falam “Ah, mas se você lançasse na banca...”. Eu falo “Isso não é certeza de nada”. Tanto é que vários artistas lançaram em banca mas você não viu resultado. A própria Blitz lançou em banca. E Brasil tem essa coisa. O Lobão foi a pessoa certa pra lançar o disco certo na hora certa. Ele mais do que ninguém pode deflagrar uma guerra contra as gravadoras. E eu acho que, honestamente falando, com todo respeito ao Lobão, o disco dele teve mais sucesso pela situação do que exatamente pelo trabalho, embora até tenha algumas músicas bem interessantes no disco. Mas o disco teve mais marketing do que música tocando nos rádios. Se hoje você falar “pô, canta uma música de A Vida É Doce”... eu acho que as pessoas ainda não sabem muito disso.
Mas o Lobão chegou a lançar dois discos nas bancas...
Bruno / É, o "Universo Paralelo" ele está lançando agora. E esse já não teve todo esse impacto, embora seja um disco ao vivo com sucessos. Então, é apenas uma alternativa, mas eu não acho que seja uma solução. Solução virá com discos mais baratos.
E o acústico que todo mundo está querendo? Sai algum dia?
Bruno / Sai, mas depende um pouco da própria MTV. A MTV pra esse ano já está com muita coisa. Então esse ano vai gravar RPM, Pato Fu, um monte de gente. Esperamos que, de repente, no ano que vem, a gente faça. É muito complicado, mas vontade não falta. É uma coisa natural, de qualquer artista. Nós nunca gravamos um disco ao vivo sequer, então acho que nos próximos anos nós deveremos gravar um disco acústico e um ao vivo também. E vamos gravar um inédito no meio dessa história.
Fala mais sobre o site de vocês. Ele agora foi renovado. Ganhou novo visual...
Bruno / É, o site passou a ter uma viabilidade muito melhor...
Quem toma conta do site?
Bruno / Sou eu. (risos) Sou eu. É legal. Eu criei um site para bandas novas que é o Demos e Debuts. Que o pessoal manda... É bem legal isso. O mais importante hoje é você aproveitar bem esse canal que a Internet tem com os fãs. E sempre tornar um canal de mão dupla. O site do Biquini não está completo ainda. Nos próximos meses vai entrar um database federal em que as pessoas vão poder ter acesso a qualquer show que nós fizemos na nossa vida. Você vai saber assim “Quantas vezes a gente tocou em Quepacapá?” ou “Quantas vezes a gente tocou em Itapecerica da Serra?” Bom, Itapecerica da Serra a gente não tocou nunca. Mas um dia, quem sabe. Se o pessoal quiser conferir: www.biquini.com.br. Estou bem contente com o resultado. Tem uma parte que me orgulha muito que são os blogs que estou fazendo. Eu tenho um chamado "Traça", que é sobre livros que estou lendo e o outro que se chama "Vitrola", que é sobre os CDs que estou ouvindo. Aliás, eu viajo sempre com muitos CDs (mostra uma bolsa com vários CDs...).
Diga aí as novidades que você tem ouvido!
Bruno / Na verdade esses são os discos que bateram na minha mão agora. Estou ouvindo muita banda nova: Terral, Mariana Davis, Fred Martins, Abraçando Jacaré, que é uma banda de choro, mas não é pra ficar tocando apanhado de cavaquinhos, os caras estão tocando composições inéditas deles, muito, muito bonito, muito legal. Para quem gosta de chorinho, Abraçando Jacaré. O novo do Maskavo, eu tô curtindo. E tem dois discos antigos. Um da Shakira que é Donde Estan Los Ladrones? que está me acompanhando já há algum tempo e o Aterciopelados, uma banda colombiana que inclusive esteve no Abril Pro Rock uns dois anos atrás. Esses são os principais. Tem ainda o novo do Zé Ramalho que eu curto pra caramba. Tem uma banda do Piauí chamada Dândi que saiu pela Abril Music, muito legal. E eu estou ouvindo, fora isso, em casa, entre os grupos novos, Barrocada, que é uma banda do interior de São Paulo, interessante. Vou escrever uma resenha sobre eles em breve no Demos e Debuts. E o meu site de porquinhos continua lá, firme e forte.
Quantos porquinhos já?
Bruno / Perdi a conta. Na verdade, os porquinhos, quanto mais ficarem no computador, melhor, porque a minha mulher já falou “Ou eu ou os porquinhos...”
Tá virando um “chiqueiro”, já?
Bruno / Pô, lá em casa é difícil. Lá em casa está brabo. Onde você olha tem porco.
No caso das bandas atuais, o que você tem achado? Você percebe que a realidade de hoje é mais violenta... está muito mais difícil gravar hoje. Você vê milhares de dificuldades e percebe também que são mais “cabeça vazia”. São poucos os que se salvam.
Bruno / Olha, eu vejo um cenário que tem muitas bandas legais. Só pra citar algumas, eu gosto do som da Penélope, eu vejo trabalhos como dos Los Hermanos e fico orgulhoso de ver uma galera fazendo algo muito interessante. Tenho ouvido naturalmente o Pato Fu, gosto muito do John como compositor. Gosto do Rappa, apesar de todas essas coisas que aconteceram. Sinto uma irmandade muito boa. Vejo que com o passar do tempo o próprio pessoal está vendo que pode ocupar o espaço usando mensagens mais fortes. E gostei muito, eu me lembro, de “Não é Sério” do Charlie Brown. Acho que é uma postura interessante. O que eu sinto, que me preocupa, é que as bandas novas, e não é uma característica de hoje, querem sempre fazer um som parecido com o que as bandas atuais estão fazendo. Não adianta. Na verdade, se você parar pra pensar, a quantidade de bandas que nem chegaram a entrar numa gravadora porque eram sub-Paralamas, sub-Camisa de Vênus, sub-Titãs, sub-Legião, ou então bandas que estão agora sendo pseudo-Charlie Brown, pseudo-Raimundos. O toque que eu dou é "seja você mesmo". Acho que é o mais importante.
Precisamos de uma nova safra assim...
Bruno / Busque ser original, mas não original por nada...
...ter uma causa, uma ideologia...
Bruno / Exatamente, é virada na forma de você cantar, na maneira de você escrever. Você pode fazer um som que tenha o mesmo punch. Talvez você faça um som tão mais pesado que Charlie Brown hoje em dia, mas você tem que diferenciar do Charlie Brown em alguma coisa. Tem que dizer uma mensagem que tenha mais a ver com isso, com sua cabeça. É nisso que cada banda se estabeleceu. Podem falar bem ou podem falar mal do Biquini, mas a verdade é que nós temos uma personalidade, nós temos nossas características, nós temos nossas influências, e isso é importante. Da mesma forma são o Legião, o Barão Vermelho, você sabe identificar. Você sabe qual é a banda que te faz...entendeu?

O portal SJ Online apresenta para vocês uma entrevista exclusiva feita por e-mail com Bruno Gouveia, vocalista do Biquini Cavadão.
ENTREVISTA COM BRUNO GOUVEIA
SJ Online: Tive notícias que, enfim, vocês tocarão em São João Nepomuceno em maio. Você confirma essa notícia? Já tem data marcada?
Bruno: Não sei. Os contatos são feitos em São Paulo pelo nosso escritório. Só depois de tudo 100% certo, eles nos avisam. Espero que role sim!
SJ Online: Já tem previsão de lançamento do CD/DVD 20 anos ao vivo*?
Bruno: Sai agora em abril, com certeza!
SJ Online: 20 anos é uma grande marca. Poucos chegam lá. Qual o segredo?
Bruno: Em uma única palavra: RESPEITO.
Respeito aos fãs, ao público e até entre nós, pois sem isso nenhuma banda se agüentaria.

SJ Online: Os anos 80 fazem parte da história do Biquini. Tanto que fizeram um "disco homenagem". Poucas bandas sobreviveram aos 90. Paralamas, Capital, Barão, Kid Abelha, Ira! e algumas outras. Quem ficou pelo caminho que vocês acham que deveria estar na ativa?
Bruno: Não digo "que ficou pelo caminho" mas que mereciam estar mais presentes: Plebe, Uns e Outros, Nenhum de Nós... Estão na ativa, como o Biquini, mas perdem espaço para "festas no apê". Triste mas é verdade...
SJ Online: Parece que os 2000 deram uma alavancada no Brock*. Muitas bandas novas de qualidade e muitas antigas voltando com tudo. O que aconteceu nos anos 90?
Bruno: Houve um modismo forte em cima de pagode e axé. Foi o momento deles, assim como nos anos 80 só dava rock. Torço para que haja espaço pra todos os estilos ainda que não curta alguns.
SJ Online: Vi que você tem um espaço no site para dizer o que está ouvindo no momento. Vocês têm gostos parecidos? O que vocês estão ouvindo ultimamente? Tem alguma novidade para recomendar aos leitores?
Bruno: O Birita (bateria) tem ouvido direto o Green Day novo, eu também. Gosto de muita coisa e sempre atualizo meu blog Vitrola! Miguel (teclados) e Coelho (guitarra) voltaram de férias agora e devem estar ouvindo coisas legais também . Nem gostamos de tudo que cada um ouve e isto é positivo. A gente acaba conhecendo mais coisas assim.
SJ Online: Suas letras têm temas diversos e, em sua maioria, são assinadas por todos. Como é o processo de criação e escolha do repertório?
Bruno: Temos vários letristas na banda e cada um traz a idéia pros outros. Assinamos coletivamente e isto é legal para todos.

Gostei do relançamento dos 4 primeiros discos*. Algumas pérolas que não fizeram o sucesso merecido estão lá: Domingo, Inocências, Catedral, Duas, Meu Reino, entre outras tantas. Houve muita pressão dos fãs para esse relançamento? Vocês pretendem vender os discos separadamente também? Algumas dessas músicas entrarão no CD/DVD?
Bruno: Das que você citou, Meu Reino foi incluída. As outras não. O DVD é resultado da tour 80. Fizemos uma pesquisa também com os fãs. Um dia a gente volta a gravar estas canções, que também gosto. Houve muita pressão nossa e dos fãs para relançarem tudo via Universal. Foi um resultado muito legal e espero que os discos saiam separadamente sim.
SJ Online: Poucos fazem releituras tão boas quanto as que estão em seu disco 80*. "Armadilha" foi um achado!!! Como foi a escolha do repertório?
Bruno: Primeiro, fizemos uma lista enorme. Passamos de 25 artistas. Depois enxugamos tudo para os 13 finais. E finalmente escolhemos a música. Algumas eram certas, como Armadilha*. Outras geraram discussões intermináveis. Não foi fácil escolher uma canção do Paralamas, por exemplo.

SJ Online: Vi que você já escreveu diversos artigos sobre mp3. Vocês concordam com a troca de músicas pela internet? E a pirataria, tem alguma sugestão para a diminuição?
Bruno: Acho que a troca sempre vai existir. Por outro lado, os portais poderão vender musica sim, pois existe público para isso. Gente que não quer infestar seu computador com spywares, que quer achar logo a música que deseja e com qualidade ao invés de garimpar por ela ... Haverá espaço pra tudo. Quanto à pirataria, basta haver fiscalização. O que há hoje é uma enorme vista grossa.
SJ Online: Para terminar, não podia deixar de perguntar: Durante seu show em Goianá, em julho de 2004, com tanta gente em frente ao palco querendo subir, por que eu???
Bruno Porque você não estava pedindo, porque você estava cantando a música e porque você estava feliz. Quisemos dividir esta felicidade com todos.
* INFORMAÇÕES EXTRAS:


CD/DVD ao vivo, gravado em Fortaleza, no Ceará Music. Primeiro disco ao vivo do Biquini Cavadão em 20 anos de carreira. No repertório, Tédio, Timidez, Zé Ninguém, Janaína, se uniram a três novas composições: Vou Te Levar Comigo, Dani e Quanto Tempo Dura Um Mês.
BROCK - Esse termo foi criado pelo jornalista Arthur Dapieve. Parece bem apropriado para englobar as bandas que fizeram parte da maior explosão de rock da história brasileira. São bandas muito diferentes umas das outras, como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Blitz, mas que tinham em comum o fato de serem contemporâneas e fazerem parte de um movimento que substituiu a MPB na mídia e renovou a música brasileira. É como se fosse a New Wave brasileira.
Box Set - Os quatro primeiros álbuns em CD. Box contendo os quatro primeiros discos do Biquini Cavadão:
CD 1 - Cidades em torrentes: Múmias, Hotel, A grade surda, Domingo, O Drama, No mundo da lua, Cadela Pornográfica, Reco, Timidez, Tédio, O Teu Barato, Caso, O Drama II, Inseguro de vida.
CD 2 - A Era da Incerteza: 1/4, Ida e Volta, Tormenta, Inocências, Dança Tonta, Catedral, Um Corpo Sem Alma, Tambores de Marvaro, Limites, Duas, Pequena Peça.
CD 3 - Zé: Bem-vindo ao mundo adulto, Brincando com fogo, Corredor X, Teoria, Samba de branco, Meu reino, Na memória, Certas pessoas, Meus dois amores, Direto pro inferno.
CD 4 - Descivilização: Zé Ninguém, Cai água cai barraco, Últimas horas, Vento ventania, Bem-vindo ao mundo adulto'90, Descivilização, Vesúvio, Arcos, Impossível, Meu reino'91(um lar em Brixton), A cidade.
Produzido por Carlos Beni. Universal. 2001

Biquini Cavadão - 80: Toda forma de poder, Angra dos Reis, Múmias, Juvenília, Me chama, Educação Sentimental II, Camila Camila, Carta aos missionários, Armadilha, Hoje, Estado Violência, Quem me olha só, A novidade.
Produzido por Tadeu Patola. Universal. 2001.
Armadilha (Finis Africae): Surgida na década de 80 em Brasília, a banda FINIS AFRICAE se destacava juntamente com bandas da época como a "LEGIÃO URBANA, CABINE C, VIOLETA DE OUTONO, CAPITAL INICIAL, entre outras". Optando por um estilo mais dançante e melódico, o FINIS AFRICAE se diferenciava bastante. Lançou dois discos independente antes de assinar com uma grande gravadora e lançar seu LP homônimo (EMI) em 87. Excursionou por todo o país emplacando os hits “Máquinas” e “Armadilha”.

Terça-feira, 19 de Fevereiro de 2008
Bruno Gouveia

Porta do quarto do hotel. A entrevista era para durar 30 minutos. Foram 3 horas no total.


Dia 20/07/2007. Sagüão do Hotel Meliá de Brasília. 10h da manhã. Bruno Gouveia, vocalista do Biquini Cavadão, concede entrevista à uma rede de televisão. O motivo era o cancelamento do show previsto para acontecer na noite anterior, no evento chamado Super Jam Session, devidamente coberto aqui, aqui e aqui.
Bruno, na noite anterior, fez o possível para o show acontecer. Aguardou, no local, o máximo possível. Falou, pelos auto-falantes, tentando acalmar o público presente do lado de fora. Não foi o suficiente, mas Bruno não arredou o pé do local, mesmo depois de 5h de atraso e confusão.

Bruno Castro Gouveia é mineiro de Ituiutaba e lidera o Biquini Cavadão, banda que dispensa apresentações, mas destaca-se por ser uma das poucas do BRock 80 que conseguiu sobreviver aos anos 90 fazendo show. Vento Ventania, inclusive, foi a música mais tocada nas rádios de 92 (informação dada pelo prórpio Bruno). É muito complicado colocar uma lista de músicas clássicas do Biquini. Vem desde Tédio até Dani.

Meu 1º contato com Biquini se deu quando ouvi Zé Ninguém. Não me lembro o ano, nem a ocasião, mas é claro em minhas obscuras memórias a imagem de Bruno com suspensório gritando "Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém". Daí, por conseqüencia, fui crescendo e ouvindo sempre as músicas que tocavam na rádio. Fui ter um maior contato depois que um colega de faculdade me indicou o álbum "O melhor do Biquini Cavadão". Covardia! É muito fácil gostar de Biquini ouvindo um set-list contendo Vento Ventania, Tédio, Zé Ninguém, Timidez, Múmias, 1/4, Domingo, Ida e Volta, Impossível, No mundo da lua, Arcos, Teoria, Meu Reino e Cai água, Cai Barraco. É como começar a gostar de Titãs por ouvir Cabeça Dinossauro ou Que país é este da Legião. Sei que é uma coletânea, mas é perfeita.

O primeiro show que vi foi o do Rock in Rio. Foram praticamente 3 anos de espera. Não podia ter começado melhor. O show, apenas um aperitivo da turnê do álbum 80, foi o mais vibrante e, para mim, um dos destaques do festival, ao lado da Plebe Rude, do Tom Zé e do Branco Melo.


Lobato e Lobato

Voltando ao sagüão do hotel, depois da entrevista e de um breve encontro com a trupe d´O Rappa, Bruno nos convida para realizar a entrevista no quarto (sem gracinhas...). "Vamos fazer a entrevista em meia-hora porque tenho algumas coisas pra fazer e hoje é casamento do Phillipe (Seabra, Plebe Rude)". Subimos 10h. Descemos 13h. É impossível conversar apenas meia-hora com o sujeito. Bruno, além da competência em cima dos palcos, é um ser-humano na mais ampla definição que isso pode gerar. Engraçado, contundente, muito inteligente, sagaz e, principalmente, inquieto.

Inquieto porque consegue embasar qualquer resposta e concatenar com diversas idéias que parecem viajar numa velocidade incalculável dentro de sua mente, visando ser claro em suas colocações. Consegue relacionar South Park com política brasileira, geografia política com insônia. É um rockstar e, acima de tudo, simples e autêntico. Engraçado e indignado. "A platéia grita Zé Ninguém durante os shows com a mesma intensidade de alegria e raiva."

Respondeu à todas as perguntas feitas. Seu relacionamento com os amigos de banda. A admiração pela competência de Álvaro Birita em compor. "Álvaro é um ogro na melhor concepção da palavra. Meu Reino, Teoria e Impossível são composições dele... É um gênio".

Ao perguntar o que ouvia em seu I-pod, foi sucinto: "Confere aí..." E colocou o aparelho na mão do Cristiano Castor Troy. Uma rápida zapeada revelou: disco novo do Nenhum de Nós, disco novo do Brian May (Queen) e uma banda lá que eu não conheço mas fiz cara de bom entendedor pra não passar por muito idiota.

Perguntado sobre a evolução do público que o acompanha, foi muito tranquüilo: "Hoje, o nosso fã que é muito mais novo, tem dificuldade em reconhecer nosso grandes hits. Conseguem se identificar com as músicas novas. É natural. O fã antigo saiu da primeira fileira e foi um pocuo mais pra trás. Ele aproveita de maneira diferente. O cara amadurece, muda as prioridades e acaba mudando sua concepção. Ele saiu de um ao vivo com muita guitarra e prefere ouvir o acústico, mas não porque ele parou de gostar de rock, mas imagina o seu dentista cantando enquanto faz o seu tratamento: ATÉ QUANDO ESPERAR, A PLEBE AJOELHAR!! Não tem como... o Capital se adaptou a isso. Se ficou ruim, não cabe a mim julgar." Bem Bruno, eu julgo por ti: antes o Capital era muito melhor.

Bruno estava alergre, ansioso pelo lançamento do disco novo, Só quem sonha acordado vê o sol nascer, que estava previsto pra lançamento dois meses depois daquela data. Mostrou, como um pai que apresenta um filho recém-nascido, as primeiras gravações da música e por conseguinte sabíamos que ia ser um discão!

Ao ser perguntado se gravaria um acústico, foi lacônico: "Sem dúvidas! É um formato que, quando bem feito, me agrada." Comentou sobre os acústicos brasileiros: "O do Gilberto Gil é muito bom. O do Titãs serviu pra mostrar que uma banda de rock podia vender mais de um milhão de cópias, mas foi um último suspiro, do tipo: vamos convidar fulano, beltrano e ciclano para abençoar, mas mesmo assim é muito bom. Só não faria a continuação, o Volume Dois, apesar que os Titãs acertaram no nome do álbum. Aquilo é para ser ouvido no volume dois do rádio". Quando falamos do álbum 80, ele falou que gostava muito do repertório, mas que queria ter gravado a canção Aluga-se, de Raul Seixas. Não gravou porque na mesma época os Titãs gravaram em "As dez mais". Pensamos numa versão 90 do 80. Ele foi categórico: "Com certeza teria Raimundos. E, eu gostaria de gravar Mulher de Fases. É perfeita a música."

Bruno é quem coordena o site da banda. Se não for a primeira banda com site no Brasil, é uma das primeiras com certeza. Eles começaram em 1996. Pra quem não se lembra de 1996 ou não era nascido, a internet era à carvão, os computadores eram à carvão, as churrasqueiras eram à carvão e as carvoarias eram à carvão. Isso explica a íntima relação de Bruno com a grande rede. Bruno mostrou-se profundo conhecedor de sites, blogs e do cotidiano virtual.

Enfim, o arquivo com o áudio da entrevista padeceu, mas da memória não sai a figura única de Bruno. Um cara apaixonado por rock. Pra mim, um fã, foram 3 horas mágicas (eu sei que é piegas e boiola, mas foram). A admiração só aumentou. Bruno, obrigado.

Abraços,

Farinha

Lobato, Bruno e um desconhecido.
Domingo, Fevereiro 05, 2006
ENTREVISTA DO BRUNO AO IBAHIA, NO FESTIVAL DE VARÃO DE SALVADOR
Bruno Gouveia - Biquini Cavadão04/02/2006

Completando vinte anos de estrada à frente do grupo de rock Biquíni Cavadão, o vocalista Bruno Gouveia falou ao iBahia sobre a gravação do CD e DVD ao vivo que 'capta a energia dos palcos', a mudança de gravadora e o retorno das bandas dos anos 80.
Emerson Nunes- emerson@portalibahia.com.br



iBahia- Como foi tocar na primeira edição do Festival de Inverno de Vitória da Conquista?Bruno Gouveia- Foi lindo. Só lamentamos ter tocado três horas da manhã de domingo pra segunda, mas mesmo assim tinha de oito a dez mil pessoas no local. Foi uma festa geral, entramos com a intenção de fechar com chave de ouro e acho que conseguimos.
iBahia- Vocês trocaram de gravadora. Por que a mudança no momento de disco novo?Bruno- O último disco autoral da gente foi em 2000, depois fizemos o Biquíni Cavadão 80, que é um disco de regravações. Estabelecemos 2003 como data para lançar o disco, só que houve uma mudança de presidência na gravadora Universal e decidimos sair por divergências em relação a várias coisas que aconteceram. Foi uma postura nossa, do tipo 'não vamos ficar onde não há interesse'. A mudança na gravadora ia acabar sendo prejudicial para o grupo.
iBahia- Vocês chegaram a falar em gravar um disco acústico. Por que mudaram os planos?Bruno- Durante o contrato com a Universal existia a idéia de lançar o segundo disco acústico em parceria com a MTV, só que na época eles não estavam interessados. Depois a gente ficou pensando como é que a gente ia fazer o nosso disco acústico, mas com a turnê do '80' a gente viu que aquele show tinha faísca e uma força muito grande. Então um amigo nosso chegou e disse 'pô Bruno, vocês não precisam fazer nada, cara; é só subir no palco com essa energia e pronto. Agora tocar num 'banquinho'... será que isso que vocês querem mesmo?'(risos) Eu me lembro que o Coelho ainda falou 'agente vai ter que gravar o acústico em pé, porque sentado a gente vai ficar se coçando'. Então, se for pra gravar em pé vamos fazer ao vivo mesmo.
iBahia- Como você vê esse 'retorno' das bandas dos anos 80?Bruno- Acho que tinha que ser. Quando se tem um trabalho consistente ele é mais duradouro. Como é o caso do Biquíni, dos Paralamas, Kid Abelha e outros que estão na ativa. Além de muita gente que está voltando.
iBahia- O que você acha das composições das novas bandas em relação ao que vocês fazem e muitas outras bandas faziam antes?Bruno- Antes havia uma pressão das próprias bandas em ter que escrever melhor, mesmo porque tinha aquelas letras do Renato Russo. Hoje em dia acho que é mais festa. Houve um certo relaxamento nesse sentido. Mas ainda temos bons letristas, essas pessoas estão carentes de exposição. É um outro tipo de visão das coisas.
iBahia- Vocês fazem um trocadilho com o cenário político atual do Brasil em 'Zé Ninguém', é disso que você fala?Bruno- A gente toca 'Zé Ninguém' no show e é o maior sucesso, nem parece que foi feita há tanto tempo atrás. Fazemos referência ao mensalão, misturamos a letra e tudo. Mas a parte que o pessoal canta mais emocionado mesmo é o refrão dizendo 'Eu sou do povo, (...) aqui embaixo as leis são diferentes', que continua bastante atual. Essa música começou com um texto que a gente escreveu em 1990, quando o Collor 'papou tudo'.
iBahia- Patrick Laplan, ex. Los Hermanos, ainda está tocando baixo com vocês?Bruno- Patrick é o nosso convidado eterno, ele tem uma banda e os trabalhos dele, mas está com o Biquini desde que saiu dos Los Hermanos. Ele recentemente gravou com uma banda nova chamada 'Trêmula' .
iBahia- O que vocês acham da pirataria?Bruno- A pirataria é cruel, vende sem pagar direito autoral e se você não vende discos suficientes a gravadora não lança o disco e sua música não toca. O cara pensa 'eu vou roubar mesmo porque quem ganha mais é a gravadora', mas é a mesma gravadora que paga o videoclipe que o cara tá vendo, a viagem pra que a gente possa ir num evento importante, ela cobre os custos todos e as pessoas não sabem disso. Os piratas não estão interessados em acabar com as gravadoras, eles querem é ganhar dinheiro. Se amanhã o mercado independente for forte eles vão começar a piratear e não querem saber se as pessoas estão batalhando ou não.
iBahia- E dos downloads de mp3?Bruno- Eu não tenho nenhum problema com download de música. Acho que a gente vai estar evoluindo tranqüilamente para um formato de distribuição digital que vai fazer com que muitas pessoas baixem de graça, mas com os direitos autorais todos pagos. Fazer o download de mp3 já é o primeiro exercício para as pessoas entenderem que a música pode ser conseguida sem pirataria. iBahia- Qual a recordação mais especial nessas duas décadas de banda?Bruno- O primeiro show vai ser inesquecível, lembro como se fosse hoje. Os dois dias de gravação do DVD também foram muito legais. Sempre tem uma coisa ou outra e de um tempo pra cá eu passei a escrever um blog pra contar as emoções dos shows. Outro dia teve uma coisa engraçada, uma mulher chegou com um papel escrito 'quantos meses dura uma semana', mas na verdade ela queria que a gente tocasse 'Quanto tempo demora um mês'. Eu pensei: você está ansiosa (risos).
iBahia- Bruno, você que está sempre conectado, conhece o portal iBahia?Bruno- Eu conheço o iBahia sim, acesso pra saber como é que estão as coisas por aqui. Principalmente durante o Festival de Verão.
posted by Ceiça Ribeiro at Domingo, Fevereiro 05, 2006

ENTREVISTA

Biquini Cavadão



Lenny:Banda oitentista , longa carreira .25 anos?Poucas bandas conseguem.
Bruno Gouveia.:São 23 anos até agora e também não sabemos direito como funciona nossa longevidade. Talvez esteja associada a uma forma de lidarmos entre nós, além de músicas que tem conquistado o grande público ao longo dos anos.
Lenny:Algumas músicas do Biquini já imortalizaram como Tédio,Timidez... Como é estar entre as bandas que contribuiu e contribui ainda para a história do rock nacinoal?
Bruno Gouveia.: temos orgulho do que estas músicas representam para diversas pessoas. Saber que elas foram e são a trilha sonora de muitas histórias nos alimenta ainda mais no processo de composição.
Lenny:Falando nisso os anos 80 foi uma época de muita expressão e boa música no rock brasileiro. O que vc diria para essa galera que está começando agora e quem sabe tornar nossa cena atual perto do que já foi ? Falta estilo ?
Bruno Gouveia.:acho que temos diversos problemas juntos mas que, com o tempo se resolverão. O primeiro é que hoje é difícil separar o joio do trigo. A produção independente não tem como distinguir um Cd de uma banda promissora de uma saraivada de outros títulos gravados às pressas e sem acabamento. Achar bons trabalhos é sempre difícil, mas insista que o que você encontrar será diamante! A outra questão é que o rock atual se parece muito com o que vivemos na década de 70, quando diversas bandas tocavam muito bem mas não aconteciam no cenário. Faltava um ingrediente fundamental: letra. Hoje em dia, mais que um estilo, precisamos de uma nova lavra de bons letristas. Eles estão por aí, existem sim, mas precisam juntar todas as peças do enorme quebra cabeça chamado show business para que algo realmente bom aconteça e não seja apenas mais uma modinha.
Lenny: Fazendo uma comparação com a banda antigamente e agora, Como definiria o som de vocês?
Bruno Gouveia.:aprendemos a tocar e gravar melhor. A guitarra ganhou mais espaço e o baixo passou a ter linhas mais melódicas e elaboradas. As composições não mudaram tanto, vem de nós quatro mesmo, mas ganhamos mais experiência com as parcerias que fizemos.

Lenny: Ainda assinam as músicas juntos?
Bruno Gouveia.:sim. com prazer. A partir do momento em que um mostra a composição para a banda, o resultado certamente tem a cara da banda. é uma forma de pensar nossa e poucos grupos fazem assim, mas isso evitou muitos ciumes e brigas por dinheiro, deu mais unidade à banda.
Lenny:Como lidam com internet: mp3 , downloads... lembro que foram um dos primeiros a terem um cd meio interativo.
Bruno Gouveia.:primeiro email de banda (1995)
primeiro site de banda de rock(1996)
primeira banda a incentivar o uso da internet com um kit de acesso no próprio cd (1998)
primeira banda a gravar um disco com imagens transmitidas diariamente do estúdio por uma webcam(1999)
primeiro blog de uma gravação - antes mesmo de surgir a palavra blog (1999)
Quando tinha 14 anos eu comprava fitas k7 para gravar os discos dos amigos. Fazia fitas com diversos discos, contendo minhas músicas prediletas. Mais ou menos como os fãs que baixam esta ou aquela música. O caminho da internet é o futuro. Precisamos apenas saber agora como remunerar quem gastou tanto para gravar o seu trabalho e torna-lo público. E o caminho para isto poderá não precisar que o público pague. Exemplo? Fidelidade. Use o seu cartão de crédito e junte pontos que servirão para download nos portais de venda , ou ainda, abasteça mais de 20 litros no posto e ganhe um cartão para baixar N músicas. Tudo subsidiado e sem custo para quem ouve. E tem ainda outras possibilidades mas é uma longa conversa (risos)
Lenny: Você acha que disponibilizar as músicas do cd pra ouvir, como fazem no site do Biquini, é um meio de combater a pirataria?
Bruno Gouveia.:é um meio de se divulgar com mais clareza o trabalho. Isso não evita o download em rapidshares da vida. Há os que querem apenas ouvir, outros que querem realmente ter os arquivos e também os que querem ter os CDS originais....
Lenny: Qual a foi a melhor fase e a mais complicada ?
Bruno Gouveia.:a melhor fase acho que é a que estamos vivendo, fazendo 100 shows por ano, dono dos nossos discos e decidindo nós mesmos em que investir. A mais complicada foi entre 1996/97 quando por pouco a banda não acabou. Havíamos saído da Sony, por vontade própria, e achávamos que seriamos contratados por outra. Não foi o que aconteceu. Os shows despencaram e o próximo cd teria que ter um hit inquestionável para continuarmos vivos. Decidimos gravar por conta própria e logo as gravadoras voltaram a nos procurar. Fechamos com a BMG e Janaina se tornou um grande sucesso.
Lenny: Bruno, e essa paixão por porquinhos ainda continua? Quantos vc tem na coleção?
Bruno Gouveia.:tinha muitos, nunca contei, mas decidi doar todos para instituições de caridade. Os porquinhos de pelúcia, bonecos etc. fizeram a alegria da criançada e me deixaram muito mais feliz do que tendo-os na estante como um maluco excêntrico (risos)


Lenny:Ano passado lançaram CD Só quem sonha acordado, vê o sol nascer... Como está esse trabalho? Aliás adorei a capa desse cd.
Bruno Gouveia.:a capa foi um belo projeto da Crama Design, leia-se Ricardo Leite, que fez 90% das capas do Biquini. O disco está indo muito bem mesmo sendo um projeto independente. Em Algum Lugar No Tempo é hit em várias cidades e o próximo passo agora é apresentar mais uma faixa para as rádios....
Lenny: Agradeço a entrevista para mim é uma grande felicidade tê-lo no Undercult!!
Bruno Gouveia.:Beijos!
Biquini Cavadão - agosto/2003
Biquíni Cavadão, uma das bandas mais antenadas nas novas tecnologias e que sempre soube usa-las em seus trabalhos, 17 anos de estrada e com um público fiel que nunca deixou a banda ser esquecida. Volta agora com um novo trabalho, 80, onde regrava hits de bandas consgradas dos anos 80. Nesta entrevista Bruno Gouveia, vocal da banda, fala um pouco sobre história, contato com os fãs e a polêmica MP3.
DropMusic: A banda tem 17 anos e sempre com a mesma formação, somente em 2000 houve uma troca, com a saída do baixista da banda, isso não é muito comum, como vocês explicam todo este tempo juntos?
Bruno Gouveia: Nossa união esteve sempre ligada aos nossos interesses pessoais e artísticos em comum. Depois de 17 anos passamos a não ter mais a mesma opinião em tudo. Foi só isto.
DropMusic: O grupo sempre mostrou uma constância na venda de discos, na média 50 mil cópias de cada um, só que durante alguns anos o Biquíni esteve fora das rádios - o último grande sucesso radiofônico foi Chove Chuva, regravação de uma música de Benjor - isso mostra que o Biquíni tem fãs fieis, essa temporada fora das rádios não atrapalha o grupo?
Bruno Gouveia: Discordo. Janaina, do disco Biquini.com.br, de 98 foi sucesso nacional. Sabor do Sol, Escuta Aqui e Você Existe Eu Sei também tiveram execuções discretas porém significativas e agora Múmias seguiu na mesma esteira de Janaina, estando no fim do ano entre as 50 músicas mais tocadas nas rádios. Dito isto, acredito sim que temos um grupo de fãs muito fiéis.
DropMusic: Durante todo este tempo juntos em algum momento bateu aquela vontade de desistir, porque a banda não estava bem, ou que não era bem o tipo de som que vocês queriam fazer?
Bruno Gouveia: Acho que em todos nós sempre aconteceu isto, pois temos idéias muito distintas e não formamos a banda por termos um gosto em comum, mas por termos estudado juntos. Ao longo dos anos, brigamos, discutimos, e muitas vezes um ou outro pensou em sair, mas o diálogo franco sempre nos ajudou.
DropMusic: Acredito que vocês já tenham tocado em quase todos os cantos do pais, afinal são mais de 1000 shows, qual o que mais significou e porque? E também qual aquele que gostariam de esquecer, não precisam citar o local
Bruno Gouveia: Os melhores shows? Difícil dizer. Todos os shows de lançamento foram marcantes pois estávamos ali mostrando ao público um apanhado de musicas novas e era interessante ver como elas reagiam a canções que não tinham tocado no rádio, não tinham clipe na MTV, não tinham nada a não ser nós mesmos apresentando-a ao vivo para as pessoas. Era legal ver as reações da galera. Os piores shows da minha vida foram aqueles em que estive doente, com febre e/ou sem voz. E olhe que ainda nestes casos, houveram exceções.
DropMusic: A banda tem vários hits, quais os que não podem faltar nos shows?
Bruno Gouveia: Tédio, Timidez, Vento Ventania, Chove Chuva, Janaina...são vários....Zé Ninguém....
DropMusic: Voltando um pouco aos fãs, como é esse contato com eles? Vou ser sincero, me assustei em receber a sua resposta menos de 10 minutos depois de ter mandado meu e-mail pedindo esta entrevista, e isso pelo menos pra mim, mostra um cuidado especial com quem tenta se comunicar com a banda...
Bruno Gouveia: Passo muitas tardes no computador e tenho link 24 na internet. Isto torna minhas respostas quase que automáticas. Minha relação com os fãs é boa porque gostamos de quebrar esta distância entre fã e artista, mas tomo cuidado sempre pra que tenha minha privacidade também.
DropMusic: Sei que o você, Bruno, é vidrado nos micros da Apple, e pelo visto a informática esta também muito ligada a banda, a idéia de ser um pioneiro entre as bandas na net foi de quem?
Bruno Gouveia: Foi uma conseqüência natural. O Biquíni foi um dos primeiros a usar assumidamente um set de bateria eletrônica acompanhando a nossa bateria. Alias, Tédio começa com uma LinnDrumm e depois é que o Birita toca. No Mundo da Lua foi precursor no uso de samplers. Demos muito espaço para remixes e trabalhamos com loops sem medo. Conforme os computadores foram entrando nas gravações para gerenciar os teclados, fomos incorporando-os. Usamos Macintosh para gravações de nossos discos desde o terceiro álbum. Nada mais natural do que entrar na Internet assim que foi possível ter um provedor nacional. Neste pioneirismo, o Biquíni foi o primeiro artista a ter e-mail, a primeira banda a ter site, a primeira a ter um cd com kit de conexão e primeiro grupo a gravar um disco com transmissão via webcam.
DropMusic: Porque a idéia de lançar um álbum com regravações de clássicos do pop rock nacional dos anos 80? E não por exemplo um disco ao vivo da banda, ou até mesmo um acústico?
Bruno Gouveia: Em 99 fizemos uma série de shows no Rio, todas as quartas feiras, tocando com convidados que iam de Kid Abelha a Zé Ramalho, Blitz a Paulinho Moska, Frejat a Benjor e Herbert a Farofa Carioca. Nestes shows tocávamos uma música do convidado e eles cantavam conosco uma do Biquíni. O resultado nos animou a gravar um dia um disco não autoral. Ao terminar o Rock in Rio, um festival de pluralidade musical incrível, tivemos uma volta ao modismo seleto nas rádios com o funk dos bondes de tigrão etc. Pensamos que o público merecia ouvir de novo certas músicas que se consagraram naquela época, assim como seria interessante para nosso público mais novo conhecer que bandas influenciaram o trabalho das que estão por aqui agora. Foi uma ótima experiência.
DropMusic: vocês criaram um site para novas bandas, mas pelo que vi o mesmo não existe mais, o projeto não deu certo?
Bruno Gouveia: Existe ainda mas estou refazendo-o. O site é o http://www.demosedebuts.cjb.net mas estou mudando-o de lugar para o http://www.demos.blig.com.br O site criado por mim visa dar maior visibilidade a tanta gente que me manda cds com trabalhos próprios, demos ou discos independentes. Não adianta eu gostar, tem que mostrar.
DropMusic: Vocês tem medo do MP3? Acham que seja pirataria esta troca de arquivos de música pela net?
Bruno Gouveia: Não tenho medo da musica digital em si. Acho que devemos ter direito a receber por um trabalho que fizemos. Quando nossa música toca na rádio, em um bar, em uma rádio via internet ou em uma danceteria, ganhamos direitos pela execução. Porque então não cobrar de alguém que esta simplesmente passando a ter a música em seu micro, podendo tocar quantas vezes quiser? É importante ressaltar que não necessariamente o público é quem deva pagar por isto. Por exemplo, você não paga para ouvir tv ou rádio, quem paga é o anunciante, certo? Com certeza poderemos chegar a um sistema em que o público baixe de graça e quem pague os direitos da música sejam os patrocinadores. Existem varias idéias sendo discutidas na área do m-commerce.
DropMusic: Os primeiros trabalhos da banda nunca foram lançados em CD, não existe nenhum plano para que isso ocorra? Afinal é o inicio e muita gente não conhece os trabalhos mais antigos... *
Bruno Gouveia: Olha acho que você não esta bem informado. Ano passado foi lançado uma caixa contendo os quatro primeiros CDs, em edição remasterizada e com encartes completos. Um must para qualquer fã do biquíni.
DropMusic: Vocês já passaram por várias gravadoras, em alguma houve algum tipo de ingerência no trabalho da banda? Esse papo de que a gravadora costuma mexer nos trabalhos existe realmente?
Bruno Gouveia: Toda gravadora sugere e quer participar da feitura de um disco. Nunca fomos pressionados a gravar uma faixa, mas algumas idéias foram boas, como a de gravar Rita Lee no disco biquini.com.br, e por isto fizemos. Esta ingerência é mais comum com artistas que precisam de um acompanhamento real de um diretor de A&R (artista e repertorio). Como somos compositores, não vivemos esta situação.

DropMusic: Pra terminar, por onde anda o Biquíni? E por onde andará o biquíni neste ano?
Bruno Gouveia: O Biquíni anda em todas as praias ;-)
Falando serio, pretendemos dar ênfase na tour do disco 80 que pra nos começa pra valer em 2002 apos este carnaval!

* Nota Entrevistador: Diversas informações foram baseadas no próprio site da banda, em relação ao lançamento dos primeiros discos em CD, constava no site que não houve este lançamento.
Por Valdir Antonelli

rock que não gosta dos outros
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Felicia Borges



Foto: Divulgação


Após 14 anos, o Biquini Cavadão está de volta à capital capixaba. O show faz parte da turnê do disco "Ao Vivo", que marca os 20 anos do grupo. Em entrevista por ao Século Diário, o vocalista Bruno Gouveia, falou um pouco da banda e do show que acontece neste sábado (19).

Nos últimos anos o Biquini Cavadão vem revivendo sucessos da história do grupo, que fez o primeiro show em 1985. Em 2001, o Biquíni lançou o disco "80", a primeira revisão do rock dos anos 80 por uma banda da mesma geração..

Comemorando os 20 anos de carreira, o Biquini lançou em 2005 o primeiro CD e DVD Ao Vivo, gravados no ano anterior no "Ceará Music Festival". Fazem parte do CD sucessos como "Vento ventania", "Tédio", "Timidez", "Janaína", "Zé Ninguém" e "Impossível", além das inéditas "Quanto demora um mês", "Vou te levar comigo" e "Dani", e ainda as interpretações de "Camila, Camila", do grupo Nenhum de Nós, "Chove chuva", de Jorge Benjor, e "Toda forma de poder", do Engenheiros do Havaí.

É esse o trabalho que o Bruno Gouvea (vocal), Álvaro Birita (bateria), Coelho (guitarra), Miguel (teclados) e Patrick Laplan (baixo) apresentam em Vitória neste sábado (19), no Ginásio Salesiano/ Dom Bosco.

Confira a entrevista com Bruno Gouvea, vocalista do Biquíni Cavadão.

Século Diário - Nos últimos discos, o Biquini Cavadão reviveu sucessos dos anos 80, em "80", e sucessos de duas décadas do grupo, pegando anos 80 e 90, no CD ao vivo. Como foi esse revival?

Bruno Gouvea - Foi importante para fecharmos um ciclo. Outras bandas já haviam gravado discos ao vivo e até de regravações. Estes foram nossos primeiros. E coincidiram com os vinte anos da banda. Serviu para também notarmos que nossa música, bem como a de nossos contemporâneos, foi assimilada e passada para gerações futuras, não ficaram datadas. "Zé Ninguém" parece que foi escrita ontem, por exemplo.

SD - Vocês acreditam que está havendo um momento de retorno ao rock nacional no país? Como é isso?

BG - Não acho. A moda hoje chama-se Funk, é o que mais toca-se em rádio. Ainda que alguns mereçam destaque e respeito, este estilo se caracteriza por muitas canções rasteiras. O que acho que rola é um movimento de busca pela poesia e atitude, por um legado deixado por Cazuza e Renato Russo, entre outros. Neste contexto, muita gente tem buscado uma saída para outros estilos que não o da moda.

SD - Depois de um tempo, são vocês que retornaram à mídia ou a mídia que voltou os olhos para vocês novamente?

BG - Costumo dizer que a mídia voltou para nós, pois seguimos nosso caminho em 20 anos com ou sem ela. É bom contarmos com um apoio, divulga mais nosso trabalho, mas, hoje em dia, ainda mais com a Internet, não é difícil saber o que estamos fazendo e por onde andamos.

SD - Apesar de nos últimos anos terem feito vários shows no Estado, em Vitória o Biquini não toca há 14 anos. Por que tanto tempo?

BG - Eu também gostaria de saber. É uma dessas coincidências. Datas que não batem, compromissos inadiáveis, adiamentos de shows, "and then someday you'll find, tem years have got behind you" como diria o Pink Floyd.. O Piauí foi o último estado a ver um show do Biquini. Levou 16 anos! E hoje em dia, tocamos todo ano em Teresina. Às vezes o que falta é um empurrãozinho.

SD - O que os capixabas podem esperar do show? Vai ser uma apresentação do disco ao vivo?

BG - A tour é a do disco ao vivo, mas é uma evolução natural do que está no DVD. Nossa relação com o público aumentou mais agora e isto gera um efeito interessante. Como se a banda fosse formada por todos ali.

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